Entre uma flor e outra….
Amanheceu nublado, muito fog no céu e as folhas apareciam pela janela como se quisessem tocar o céu, mas sem poder vê-lo. Estava frio, o vento cantava pelas frestas da janela, o chá posto exalava um cheiro de canela e cardamon e minha pele fria procurava abrigo frente ao fogo. Sentei para ler o jornal e as fotografias que saltavam das manchetes fizeram com que eu aumentasse as chamas do aquecedor para que meu coração não congelasse de vez. De tragédia em tragédia, o jornal domingueiro me fez perder o interesse. Ao invés, porém do amanhecer-ignorando-a-realidade, acordei com a vontade de esquecer os óculos escuros em casa só para ver se ainda há azul no céu.
Terminei meu chá, enxuguei o banho e vesti o uniforme dos rebeldes copiando James Dean. Saí do meu quarto com meu jeans e camiseta. A única diferença é que minha camiseta branca é hering, algo que ele, meu ídolo rebelde, não chegou a usar (que eu saiba). Para pisar em território desconhecido, calcei meu velho e surrado all star; por favor não se apaixone, porque ele não é azul, como cantava Cassia Eller, mas branco. Desta vez, porém, sem ray-ban, apenas as chaves do carro, mochila e muita coragem. O céu está azul? Dizem que sim.
Ao abrir a porta de casa vi o corredor imenso, iluminado que não me meteu tanto medo como antes. Na fotografia, as paredes traziam lá fundo a figura esguia e sorridente da minha vizinha australiana que acabou de se graduar em Português Brasileiro pelo Rosetta Stone. Palavras em português ecoam no corredor americano como se fossem música aos meus ouvidos. É tão confortante ouvir “bom dia”, quando tudo à sua volta ecoa “good morning”! Engatei uma conversa de 15 minutos sobre o tempo, o frio, cães, final de semana e a volta às aulas. Na temeridade do que se aproxima, voltar à rotina de trabalho, tanto eu como ela dividimos a mesma angústia: como será sem ela?
Sem saber… segui o caminho do domingo e a minha vizinha, não sei a que dia seguia. Quando entrei no carro e liguei os motores, o sol saiu, o portão abriu e o verde do parque ainda não mostrava o céu azul. Continuei dirigindo, passei por outros parques, outras pessoas, outras árvores, mas foi quando estacionei e caminhei, foi que vi que só entre uma flor e outra é que o céu se mostra azul.